Presidente também comemorou o resultado da cúpula do BRICS, que ampliou o número de países e o peso geopolítico do bloco
O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, encerrou sua visita oficial de dois dias a Angola com uma entrevista coletiva na tarde deste sábado (26/8), antes de embarcar para São Tomé e Príncipe. Em suas declarações iniciais, ele defendeu mais investimentos e parcerias com o continente africano e também com outros países do chamado Sul Global, como forma de acelerar o desenvolvimento e combater a desigualdade.
“Se o mundo desenvolvido, se as pessoas que estão com dinheiro, às vezes sem ter onde aplicar, tiverem interesse em fazer esse fundo para fazer investimento em infraestrutura. Porque quanto mais os países africanos crescerem, quanto mais os países latino-americanos crescerem, mais nós seremos consumidores de países que fazem produtos mais sofisticados, que têm maior valor agregado. Essa é a lógica até que nós estejamos competitivos com eles”, disse.
Lula citou o FIDA, um projeto de desenvolvimento de infraestrutura apresentado pela União Africana há cerca de dez anos, que previa um total de US$ 340 bilhões em obras. Segundo ele, o intuito era chamar bancos de desenvolvimento do mundo todo, como o BNDES e o BID, mas a ideia acabou não se concretizando. A necessidade de investimentos e o potencial de crescimento, no entanto, ainda existem.
“A África logo estará com 1,3 bilhão de habitantes, um PIB de quase R$ 3,4 trilhões, é um continente que (na medida que receba ajuda dos fundos internacionais e dos países ricos e resolver parte do problema energético) vai dar um salto de qualidade extraordinário no setor produtivo, seja agrícola ou da indústria”, ressaltou.
Para o presidente Lula, uma saída seria convencer o Fundo Monetário Internacional (FMI) a ajudar os países africanos e converter suas dívidas em potenciais investimentos em infraestrutura, que possam ajudar o continente a se desenvolver.
“Agora estou com a ideia de que é preciso começar uma nova briga, que é a seguinte: o continente africano deve para o FMI por volta de US$ 760 bilhões. Essa dívida vai ficando impagável, porque o dinheiro do orçamento nunca dá para pagar dívida e o problema vai sempre aumentando. A lógica é tentar sensibilizar as pessoas que são donas dessa dívida, para que seja transformada no apoio à infraestrutura: o dinheiro da dívida, em vez de pago, que seja investido em obras de infraestrutura. Você pode anular essa dívida, que eu acho que vai ser impossível anular uma dívida de US$ 760 bilhões, ou você pode prorrogá-la até que esses países adquiram condições de poder voltar a pagar. Temos de encontrar uma solução porque não dá para que a gente continuar do mesmo jeito”, argumentou.
O PAPEL DO BRICS – Na opinião de Lula, esse tipo de negociação pode ser facilitado a partir do fortalecimento do BRICS no cenário mundial. Nesta semana, durante a cúpula do bloco na África do Sul, foi anunciada a adesão de seis novos países a partir de janeiro de 2024. Além de África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, entrarão Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã.
“A criação do BRICS é uma das coisas mais extraordinárias que aconteceram nesse século 21. E o que aconteceu na África do Sul, com o fortalecimento do BRICS? Com a decisão de construir uma comissão de ministros da Economia para discutir a possibilidade de uma moeda de negócio entre nós”, questionou o presidente.
Com a ampliação, o grupo ganha ainda mais força para negociações em prol de uma reforma no sistema de governança global, como mudanças no Conselho de Segurança da ONU, instituições que ajudem no cumprimento de acordos ambientais como os Protocolos de Kyoto, entre outros. Além disso, o BRICS amplia sua capacidade de negociar com outros grupos de poder em pé de igualdade ou até mais.
“É muito importante porque o mundo fica mais equilibrado na discussão geopolítica. Agora você pode fazer uma reunião do BRICS com o G7 em condições de superioridade, porque PIB (na paridade de compra) o BRICS tem mais – agora representam 36,7% do PIB de paridade de compra e o G7 representa 29%. Então, as condições geopolíticas para você negociar mudam e você negocia em conjunto, você pode negociar com o Mercosul, com a CELAC”, exemplificou.
Para Lula, essa ampliação e o novo peso do bloco também devem ajudar a mudar a forma como se encara os países-membros e outros que buscam parcerias com o BRICS. “Muitas vezes, trataram a África como terceiro mundo, muitas vezes trataram a China como terceiro mundo. Quando passaram uns 10, 15 anos, pararam com a terminologia de terceiro mundo e começaram com os países em desenvolvimento. Agora vão ter que escrever ‘o Sul Global’ – veja que chique que vai ser agora: a manchete ‘Lula participa do Sul Global, Lula é presidente de um país que está no Sul Global”, brincou.
Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República