MATERNIDADE ATÍPICA: 86% DAS PESSOAS CUIDADORAS DE CRIANÇAS COM TEA SÃO AS PRÓPRIAS MÃES

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MATERNIDADE ATÍPICA: 86% DAS PESSOAS CUIDADORAS DE CRIANÇAS COM TEA SÃO AS PRÓPRIAS MÃES

Foto/Divulçgação

Em muitos casos, a falta de rede de apoio, o preconceito social e a desinformação são alguns dos desafios enfrentados por essas mães

O sonho de ser mãe é algo que acompanha muitas mulheres ao longo da vida. Entretanto, algumas pesquisas mostram que a romantização da maternidade é algo prejudicial para a saúde emocional dessas mulheres. 

“É importante abrir discussões em que as mães possam trazer sua vivência e falar sobre a romantização materna, depressão pós-parto, puerpério, maternidade solo, atípica, entre tantos outros cenários.”, menciona a psicanalista do Ipefem (Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino), Ana Tomazelli.

Conforme a comunidade materna Portal Mommys, 49% das mães entrevistadas se sentem em um “limbo emocional” e 80% disseram estar “exaustas”, mesmo não tendo nenhuma doença mental ou física diagnosticada. 

Maternidade solo e atípica  

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11 milhões de mulheres são mães solo e 64% delas estão abaixo da linha da pobreza. Para quem vive uma maternidade atípica, as responsabilidades podem ser ainda mais complicadas, pois os tratamentos contínuos dos filhos demandam mais tempo na vida dessas mães. 

O estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, realizado pela Genial Care, rede de saúde atípica referência na América Latina especializada no cuidado e desenvolvimento de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista), aponta que 86% das pessoas cuidadoras de crianças com TEA são as próprias mães e 47% delas se sentem culpadas pelas condições da criança.

Kelly Bia, médica, auditora e oftalmologista, mãe de 3 filhos, relata o momento em que descobriu o diagnóstico do filho. “Na descoberta, veio um misto de sentimentos, um pouco de sensação de ‘estar perdida’ e um pouco de alívio por poder ter o que procurar. Depois, fui buscando mais informações e pesquisando sobre o tratamento. Apesar de ser médica, é muito diferente viver a situação de ter uma criança com espectro autista. A minha vantagem é ter um conhecimento básico que ajuda a entender melhor todo o processo. Então, veio a certeza de que tudo vai dar certo, pois estamos fazendo o que precisa ser feito.”

Ter uma rede de apoio é necessário  

A presença de uma rede de apoio composta pelo pai, familiares, amigos, profissionais de saúde e grupos de apoio pode fornecer um suporte inestimável às mães. Essa rede oferece não apenas conforto emocional, mas também recursos práticos e informações valiosas sobre o autismo. 

Ao ter uma rede de apoio, às tomadas de decisões ficam mais leves, e é através dessa solidariedade e compreensão que as mães encontram força para enfrentar os obstáculos e celebrar as conquistas de seus filhos, criando um ambiente de apoio essencial para o desenvolvimento e bem-estar de toda a família. Ao compartilhar experiências e conhecimentos, a rede de apoio ajuda as mães a se sentirem compreendidas e menos isoladas, permitindo-lhes navegar de forma mais eficaz pelos desafios únicos que enfrentam ao criar uma criança com autismo.  

“Como mãe que sempre trabalhou em período integral, precisei criar uma rede de apoio para poder me concentrar no trabalho sem me culpar ou me preocupar excessivamente com o bem-estar dos meus filhos. Estabelecer uma rotina tanto para mim quanto para eles tem sido muito útil. Lidar com a decisão diária sobre como será o dia deles pode ser cansativo, mas ter um roteiro predefinido facilita bastante, permitindo que eu lide mais facilmente com as exceções, como quando um filho fica doente ou quando há uma festa de aniversário para ir” comenta a Vice-Presidente de Treinamento e Desenvolvimento da Genial Care, Antonia Mendes. 

Para a vice-presidente, o maior desafio que as mães carregam é precisar tomar decisões sem se sentirem culpadas. “E se quisermos dedicar mais tempo à maternidade e abdicar do trabalho? Ou de trabalhar na mesma intensidade que outros? Todas as ações terão uma consequência, e tudo bem. O inverso é verdade: se quisermos nos dedicar integralmente ao trabalho, como mães, perderemos alguns momentos com os filhos, e, temos que estar bem com essa decisão também”, acrescenta. 

Burnout materno é real?

O burnout materno é o esgotamento emocional causado pelo estresse prolongado relacionado aos cuidados maternos, combinados com as múltiplas obrigações cotidianas. Alguns dos sintomas são sentimentos constantes de culpa, estresse relacionado à administração do tempo, exaustão mesmo após um período de repouso, sentimento de fracasso e impotência, irritabilidade sem motivo aparente, baixa autoestima, tristeza, medo e insegurança, entre outros. 

Todas as mães, sendo elas cuidadoras ou não, podem passar pelo cansaço mental, mas é  importante reconhecer o impacto mental e emocional que elas passam ao enfrentar barreiras para conciliar suas responsabilidades familiares e profissionais. “A pressão para se adequar a padrões inatingíveis de produtividade e disponibilidade muitas vezes resulta em estresse, ansiedade e sentimentos de inadequação”, declara Ana Tomazelli.

De acordo com Antonia Mendes, hoje o mercado de trabalho tende a oferecer mais oportunidades para quem pode se dedicar de maneira integral ao trabalho. “Isso implica que a mãe de uma criança atípica pode aceitar isso e ter que montar uma rede de cuidado para seu filho, (que não é simples e se não houver apoio da família pode ser caro), ou ela vai procurar oportunidades de trabalho que proporcionem uma rotina mais flexível, mas isso diminuirá o leque de oportunidades possíveis e muitas vezes pode ter um impacto financeiro negativo” relata. 

Para avançar na carreira, é comum que as empresas esperem um desempenho em alto padrão e uma dedicação consistente.  O que muitas mães passam ou escutam é que “se sua maternidade é atípica, ou não, a impede de se dedicar assim, pode ser que outra pessoa na empresa vá avançar antes de você” informa a vice-presidente.    

Antonia Mendes e Ana Tomazelli concordam que as mães que desejam trabalhar e contribuir para o sustento da família não deveriam enfrentar penalidades ou restrições devido à sua condição parental. “É fundamental que as empresas e instituições adotem políticas inclusivas que reconheçam e valorizem a maternidade, garantindo igualdade de oportunidades e tratamento justo para todas as mulheres, independentemente do estado civil ou da parentalidade”, finalizam. 

Genial Care
A Genial Care é uma rede de cuidados de saúde atípica referência na América Latina. Especializada no cuidado e desenvolvimento de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e suas famílias. Unindo modelos terapêuticos próprios, suporte educacional e tecnologia de ponta para maximizar a qualidade de vida e o bem-estar de todas as pessoas envolvidas no processo de intervenção. Atualmente conta com um time de mais de 200 pessoas, unidas pelo propósito de garantir que toda criança atinja o seu máximo potencial. Site / YouTube / Instagram / Facebook / LinkedIn 

Ana Tomazelli, psicanalista e CEO do Ipefem (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), uma ONG de educação em saúde mental para mulheres no mercado de trabalho. Mentora de Carreiras, Executiva em Recursos Humanos, por mais de 20 anos, liderou reestruturações de RH dentro e fora do país. Com passagens pelas startups Scooto e B2Mamy, além de empresas tradicionais e consolidadas como UHG-Amil, Solera Holdings, KPMG e DASA (Diagnósticos da América S/A). Mestranda em Ciências da Religião pela PUC-SP e membro do grupo de pesquisa RELAPSO (Religião, Laço Social e Psicanálise) da Universidade de São Paulo, também é pós-graduada em Recursos Humanos pela FIA-USP e em Negócios pelo IBMEC-RJ. Formada em Jornalismo pela Laureate – Anhembi Morumbi. Linkedin/anatomazellibr Instagram @ipefem

Fonte: Stefani Pereira, Letícia Carvalho e Letícia Carvalho – Temma Agência