Especialista da FEBRASGO reforça a importância do acompanhamento médico a médio e longo prazo para garantir qualidade de vida à paciente
De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), até 2025, o Brasil pode registrar mais de 73 mil novos casos de câncer de mama. No entanto, com o avanço da tecnologia e os novos tratamentos, os pacientes estão vivendo mais e melhor. Para garantir qualidade de vida ao paciente após o tratamento oncológico, é importante que o acompanhamento médico seja contínuo, a médio e longo prazo.
O Dr. Guilherme Novita, membro da Comissão de Mastologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), ressalta que enfrentar o câncer de mama é, sem dúvida, uma jornada difícil e cheia de desafios. No entanto, é fundamental perceber que a superação dessa doença não marca o fim, mas sim o início de uma nova fase na vida. “Há, sim, vida após o câncer de mama, e essa vida pode ser repleta de possibilidades, crescimento e renovação”, reforça.
De acordo com o especialista, o tratamento do câncer de mama vai além da cirurgia ou da última sessão de quimioterapia. Para ele, é essencial manter um acompanhamento contínuo após o tratamento para garantir uma melhor qualidade de vida para a paciente. “Muitas vezes, os profissionais de saúde não consideram a perspectiva holística da mulher, esquecendo que ela tem uma vida, família, filhos ou o desejo de tê-los, além de um trabalho. Após o tratamento, é natural que surjam dúvidas, inclusive sobre sua própria identidade nesse novo momento”, disse o médico.
Em relação aos efeitos colaterais após o tratamento, o especialista explica que eles dependem da extensão do tratamento. O efeito mais impactante costuma ser a mastectomia – cirurgia de remoção completa da mama, que quando não é acompanhada de reconstrução, pode causar um grande impacto emocional. “Felizmente, a maioria das pacientes hoje é tratada com cirurgias que preservam a mama, ou, quando a mastectomia é necessária, muitas recebem reconstrução mamária imediata”, diz.
Outro ponto importante é a cirurgia dos linfonodos. Quando associada à radioterapia, essa cirurgia pode resultar no chamado linfedema do braço. “Atualmente, procuramos realizar cirurgias menos invasivas e, em alguns casos, evitá-las, pois isso pode facilitar a recuperação da paciente. Além disso, existem tratamentos preventivos e terapias que atuam para reduzir ou até tratar o linfedema”, completa.
As mulheres que fazem quimioterapia costumam enfrentar efeitos colaterais a curto, médio e longo prazo, que podem impactar significativamente suas vidas. De modo geral, a quimioterapia pode provocar a menopausa em 50% das mulheres que ainda não a vivenciaram, e quando não causa a menopausa, pode acelerá-la. O que gera um impacto considerável nas pacientes, principalmente devido a sintomas como ondas de calor e atrofia genital. Outro ponto importante é que, para mulheres que ainda não tiveram filhos, a quimioterapia pode afetar a fertilidade.
“Apesar desses efeitos colaterais, também têm surgido medicamentos interessantes para o alívio dos sintomas da menopausa, trazendo um impacto significativo na qualidade de vida das mulheres. Adicionalmente, novas soluções estão sendo desenvolvidas para ajudar a evitar a infertilidade após o câncer de mama. Além disso, há um crescente número de terapias alvo que visam atacar especificamente as células tumorais, o que reduz as chances de efeitos colaterais”, ressalta o Dr. Novita.
Quanto ao tempo em que os pacientes podem sentir os efeitos do tratamento, o especialista explica que isso depende da extensão do tratamento e de quanto ele impactou cada organismo. “As reações não são iguais para todos; algumas são mais imediatas, como a menopausa, que pode ser percebida rapidamente, assim como a fadiga”, comentou.
No entanto, existem efeitos que podem aparecer a longo prazo, ou até mesmo em um prazo muito extenso. O médico diz que alguns pacientes oncológicos podem apresentar algum grau de disfunção cardíaca após 30 anos.
“É fundamental pensar cada vez mais nos resultados a longo prazo, como os efeitos colaterais que podem surgir em 10, 20 ou até 30 anos. Outro ponto importante é que as pacientes que experimentam menopausa induzida tendem a ter efeitos mais intensos, e sabemos que alguns deles são progressivos. Por exemplo, a atrofia genital e a secura vaginal podem começar como um leve incômodo durante a relação sexual, mas, ao longo do tempo, podem evoluir para incontinência urinária de esforço e uma condição chamada líquen escleroso, que é bastante desagradável”, afirmou.
Além disso, a questão da osteoporose é preocupante, pois a saúde óssea pode se deteriorar gradualmente. Uma osteoporose severa pode levar a fraturas com facilidade. Por isso, mesmo as pacientes que tiveram tratamento há muitos anos precisam continuar a ser monitoradas.
“As perspectivas são extremamente promissoras e positivas. Cada vez mais entendemos que não basta devolver uma paciente curada do câncer à sociedade, à família e aos amigos; é essencial que ela retorne como uma pessoa restaurada, capaz de retomar sua vida normal. Isso significa que a paciente deve continuar ativa profissionalmente, socialmente e desfrutar de uma vida conjugal satisfatória”, destacou o mastologista.
Para o Dr. Guilherme Novita, o foco está em restaurar a funcionalidade e a qualidade de vida, abordando a prevenção da perda óssea e muscular, melhorando os sintomas da menopausa e os efeitos colaterais relacionados. “Também trabalhamos na prevenção de problemas cardíacos e, felizmente, hoje conseguimos resultados muito bons. Além disso, buscamos evitar cirurgias desnecessárias, tanto na mama quanto na axila. Como resultado, muitas mulheres que passaram pelo tratamento do câncer de mama conseguem retomar uma vida totalmente normal, como era antes da doença”, pontuou.
Alimentação e Atividade física
A dieta e o exercício têm dois efeitos principais: melhoram a qualidade de vida, reduzindo a fadiga e ajudando no controle de peso, além de fortalecer a saúde óssea. O exercício é fundamental, enquanto uma boa alimentação favorece o ganho muscular e a perda de peso, facilitando a vida cotidiana.
A perda de peso, que geralmente resulta da combinação de dieta e exercício, já está comprovada como um fator que diminui o risco de recidivas do câncer. “O câncer de mama, por exemplo, se alimenta em parte do estrogênio. Na obesidade, há uma produção excessiva de estrogênio devido à conversão de hormônios masculinos, resultando em um ambiente inflamatório que pode favorecer o crescimento tumoral. Assim, mulheres que mantêm um peso saudável após o tratamento do câncer têm menos recidivas do que aquelas que estão acima do peso”, finalizou o médico.
Fonte: Jéssica Silva Cunegundes de Souza