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POR QUE UM REMÉDIO PODE REPRESENTAR O FIM DA AIDS EM TODO O MUNDO?

Antirretroviral, a longo prazo, pode erradicar a Aids, ressalta especialista | Montagem/Freepik/Divulgação Gillead

Lenacapavir apresentou 100% eficácia na prevenção em humanos; infectologista acredita que, a longo prazo, medicamento pode “erradicar a Aids”

 

Um estudo científico apresentado na 25ª Conferência Internacional sobre a Aids, em julho, na Alemanha, trouxe uma notícia animadora para o mundo inteiro: o antirretroviral lenacapavir demonstrou eficácia geral de 100% na prevenção da infecção pelo HIV, o que pode representar um avanço na cura da Aids até 2030, segundo meta estabelecida pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids.

 

 

Agora, em 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids, o SBT News ouviu um especialista da Sociedade Brasileira de Infectologia para entender de que forma o medicamento pode representar uma esperança para o fim da doença descoberta no final da década de 1970.

O lenacapavir tem uma eficácia altíssima de prevenção contra o vírus HIV-1, ainda que a tendência é que os resultados sejam um pouco “mais inflados”, já que os testes foram feitos com pacientes supervisionados, segundo o infectologista Renato Grinbaum. Para ele, o remédio tem potencial de reduzir a transmissão de HIV “de uma forma muito intensa.”

 

“A longo prazo, isso pode gerar uma quebra do ciclo de transmissão e, eventualmente, até a erradicação da doença no longuíssimo prazo”, explica Grinbaum.

Qual é a diferença do lenacapavir para os outros remédios?

Do ponto de vista técnico, o mecanismo de ação do lenacapavir não é tão diferente dos medicamentos já utilizados no Brasil. Ele age contra o HIV-1, variante responsável pela maior parte das infecções em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas a principal diferença está na duração do efeito do medicamento no corpo, segundo o especialista.

Segundo Grinbaum, o remédio “não depende da disciplina da pessoa”, já que é injetado apenas duas vezes por ano.

 

Atualmente o Brasil adota o que ele chama de “PrEP tradicional”, com a combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam alguns “caminhos” que o HIV usa para infectar o organismo. Mas os remédios precisam ser tomados diariamente pela pessoa. O especialista reitera que esses medicamentos também são eficientes, mas, por demandar uma constância diária, a adesão ao tratamento acaba sendo menor.

 

“A pessoa não vai correr o risco de esquecer de tomar o comprimido. Por isso, com a adesão ao tratamento mais alta, aumentam as chances de ser efeito”, disse.

Medicamento representa esperança, mas precisa ser fornecido para todos que precisam, diz ONU

O medicamento representa uma “esperança para o fim da Aids” em todo o mundo até 2030, segundo comunicado emitido pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids após a divulgação dos resultados.

No entanto, a agência da ONU reitera que a farmacêutica responsável pelo medicamento precisa assegurar acesso ao medicamento para todas as pessoas que necessitem usá-lo.

Até o momento, o medicamento não teve um pedido de registro enviado pela farmacêutica responsável, Gilead, à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Questionada se há previsão de registrar no medicamento no Brasil e se eles consideram liberar a patente do medicamento para atender à população mundial, a Gilead ainda não se pronunciou.

 

Como foi feito o estudo?

O estudo acompanhou cerca de 2.134 mulheres na Uganda e na África do Sul, que estão entre os 11 países com a maior prevalência do vírus entre a população adulta. Nenhuma delas contraiu o HIV após receber doses do medicamento.

A eficácia foi maior do que a de outros medicamentos como o Truvada (16 infecções entre 1.068 mulheres) e o Descovy (39 infecções entre 2.136 mulheres). Ao todo, 5.338 mulheres participaram da pesquisa.

 

Fonte:  SBT